A magia espreita nos detalhes; numa palmadinha certa no ombro, numa palavra, numa qualquer atenção que nos muda o dia, até pode ser na forma que a luz do sol assume na esquina de uma ruela da cidade onde passamos ao fim da tarde, a forma que a luz assume mais o nosso olhar sobre ela. É a magia que torna a vida entusiasmante, é a magia que nos desperta, que nos desalinha as borboletas cá dentro, que faz com que nos apeteça viver mais. É a magia que faz das pessoas apaixonadas; por um projecto, por uma causa, pela família, pelo que for. A magia existe sim, está lá onde for, para cada um de nós, todos os dias. Ás vezes não a conseguimos sentir; o nosso olhar sobre as coisas e sobre os outros, bloqueia-nos a percepção. E ás vezes, demasiada percepção, também nos faz adoecer. Sobre essa extrema sensibilidade, às vezes é muito difícil aceitar um mundo onde as pessoas se preocupam tão pouco umas com as outras. Mesmo que as minhas pessoas e o meu mundo estejam alinhados, mesmo que não me falte Amor. Dói na mesma, dói-me o mundo e a indiferença e a incompreensão. Dói-me a prepotência, a desimportância crescente da boa educação, o egoísmo, os umbigos insuflados em barrigas cheias. Ás vezes não tenho paciência nenhuma para aquilo em que o nosso mundo se está a tornar. Mas lá vem uma manhã em que desperto e vou atrás da magia, do meu balão de oxigénio.
Quando a magia deixa de fazer falta e nos resignamos, é o fim. Chegados aí, acredito que algures no Universo algo dita a nossa inutilidade e decide o fim da nossa permanência. Ou já cumprimos a nossa missão, ou acabou-se-nos a magia. Por isso muitos morrem apesar da magia, e outros morrem pela falta dela.
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