Breve raio X


Nasci em Angola e tenho quarenta anos, dos quais trinta foram vivos em Portugal e oito numa ilha de Espanha a apenas oitenta quilómetros de África. A minha Casa no mundo não é um país ou uma cidade; aprendi com a distância e as saudades que a minha Casa no mundo são Pessoas. Mas há a luz e os cheiros, que me fazem ficar eternamente de lugares e momentos. Por causa disso, mais do que de qualquer outra parte no mundo, sou do Porto.
Sou filha de uma união desfeita, a mais velha de quatro irmãos, criada pela minha mãe cuja vida dava um filme ao mais alto nível da esfera de Almodôvar, sobre a qual não tenho o direito de fazer revelações ou emitir juízos. A minha mãe é sem duvida, a mulher mais grande que conheço. Foi preciso estudar muito, ler bastante, consumir histórias de vida como copos de água dentro de um gabinete fechado, para a compreender admirar e amar incondicionalmente.
O meu pai foi um homem que escolheu a vida em partes, com o qual não tenho qualquer ligação. Estou em paz com isso e agradeço-lhe o reforço da aprendizagem: que o amor só se constrói com muita constância, com presença e exemplo.
Formei-me numa área por paixão e vocação; trabalhei intensamente, cresci tanto que um dia quis parar. Esse tempo foi também uma cura, uma aprendizagem. Durante oito anos vivi de vento, mar, manhãs iluminadas e silêncio. No meu regresso ao Porto e após concluir uma especialização, descobri uma verdade que me libertou: posso ser feliz a fazer o que gosto independentemente de recompensas ou remunerações. Se fosse hoje? Formava-me em Medicina. Mas a vida, diz-se que nos coloca sempre onde realmente devemos estar. Encontrar projectos bonitos e pessoas boas, também nos orienta e nos permite crescer. Por causa dessa sorte, hoje sinto-me bem profissionalmente, com objectivos renovados e tranquilidade para os poder alcançar.
De resto tive a imensa sorte de viver o maior Amor (acredito que só nos acontece uma vez na vida) e duas paixões bonitas; não abriria mão das minhas histórias porque com elas cresci e fiz-me quem sou hoje.
Nunca sonhei ser mãe. Mas quando amamos tanto, quando amamos tudo, pode muito bem acontecer que chega um dia e olhamos aquela pessoa e pensamos: Como seria uma criaturinha vinda dos dois? E a vontade de ver crescer, cheirar essa criatura, de repente fica maior. Dou por mim, após duas perdas, a redefinir-me com força. Não sei ser de outra forma: preparo-me para o pior, esperando SEMPRE o melhor.
A Família é uma espécie de Eu em mim, não consigo ser feliz se eles não estiverem bem. E ao núcleo duro junto aqueles com quem tenho tido a sorte maior de me cruzar, os que de alguma forma chegaram e ficaram. Ás vezes são duas ou três pessoas chamadas de Amigos; bichos de estimação que chegamos a querer como gente; ou pessoas que em algum momento pontual foram determinantes na construção da Pessoa que somos.
Considero-me portanto privilegiada. Sou profundamente grata à Vida.
(...)
Todas as fotografias deste blog são de minha autoria.

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